Juan Mejía: “Os avanços dos transplantes na América Latina”

Juan Mejía: “Os avanços dos transplantes na América Latina”

Há cinco anos, sob o sol da Flórida, na cidade de Tampa, médicos e os mais diversos profissionais de saúde de toda a América Latina se reuniam, pela primeira vez, para falar especificamente sobre transplantes cardíacos e assistência circulatória mecânica (coração artificial). Foi o primeiro Pan American Workshop for Mechanical Circulatory Support and Heart Transplant. O evento foi o início de uma relação profícua entre América Latina e a Sociedade Internacional de Transplante Cardíaco e Pulmonar (ISHLT). Os encontros desse grupo se seguiram em congressos anuais da ISHLT.

O último encontro, em San Diego (EUA), em maio deste ano, foi riquíssimo. E fatos relevantes mostraram os avanços nos diferentes países latino-americanos.

No Brasil, apesar da crise econômica e política, apresentamos resultados muito positivos nos números de transplantes cardíacos. Destacamos a criação de um programa nacional para o treinamento multidisciplinar de centros de saúde de várias regiões do País na área dos transplantes de coração: o Projeto Tutoria em Transplante Cardíaco do Hospital de Messejana, em Fortaleza. Ao fim de um treinamento teórico e prático, previsto para ser concluído no fim de 2017, com duração de 18 meses, estes centros já estarão aptos a transplantar. É o Ceará, que se destaca como referência nacional nos transplantes de coração, ensinando o Brasil a transplantar. Só este ano, já foram realizados até agora 13 transplantes de coração no Hospital de Messejana, e um total de 383 desde que o serviço foi criado, há 20 anos!

Da Colômbia e do Chile, recebemos as boas novas das recém-conquistadas alterações nas leis de doação de órgãos e tecidos, que se tornaram mandatórias. Ou seja, as pessoas que, em vida, não deixarem um registro de que não querem doar seus órgãos em caso de morte cerebral, automaticamente, em caso de morte, se tornam doadoras. A mudança certamente trará mais doações de órgãos para os transplantes e ajudará a diminuir as longas filas de espera.

As novidades do México mostraram o início do uso dos corações artificiais como forma de aguardar por um transplante em pacientes pediátricos. E também do México veio a boa notícia de que dispositivos temporários (corações artificiais) fabricados pela indústria local começaram a ser utilizados em pacientes com insuficiência cardíaca aguda. Peru, Argentina e Uruguai também apresentaram avanços nos transplantes.

Uma afirmação importante feita pelo diretor do registro da ISHLT, Josef Stehlik, durante o encontro em San Diego, foi que, diante da retomada do aumento do número de transplantes no mundo todo, mesmo com a estabilização dos números desses procedimentos na Europa e nos EUA, o crescimento real corresponde a regiões fora deste eixo, dentre elas, a América Latina. Mas, a despeito desse crescimento, calcula-se que, do total de transplantes realizados na América Latina, apenas 30% sejam registrados junto aos governos de cada um desses países. Portanto, são igualmente urgentes ações criativas e práticas para estimular o envio desses dados.

Nossa expectativa agora é para o primeiro Joint Meeting ISHLT / Latino-america, que será em 20 de outubro de 2017 na cidade de Foz do Iguaçu, estado do Paraná, durante o XV Congresso da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos.

 

Juan Mejía

mejia.juanc@gmail.com

Cirurgião cardiovascular da equipe de transplantes de coração do Hospital de Messejana


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